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Transferência de um embrião e gestação gemelar

Transferência de um embrião e gestação gemelar

A Sociedade Japonesa de Obstetrícia e Ginecologia foi a primeira sociedade em todo o mundo a recomendar a transferência única de embriões, (SET- Single Embryo Transfer), em 2008, para melhorar a segurança da reprodução assistida. Como resultado dessa política, a proporção de ciclos com SET subiu para 80%, em 2015, e a proporção de gestações múltiplas caiu para 3,2% .

Já sabemos há algum tempo que é melhor transferir um embrião para o útero durante o tratamento de reprodução assistida do que vários embriões para evitar  gravidez múltipla e os riscos associados a ela, como mortes fetais, aborto espontâneo, parto prematuro e baixo peso ao nascer. No entanto, mesmo quando a transferência de um embrião único (SET) é realizada, ainda acontecem gestações de gêmeos ou mesmo de trigêmeos.

Em estudo publicado na Human Reproduction, uma das principais revistas de medicina reprodutiva do mundo, pesquisadores investigaram uma das razões pelas quais isso acontece e conseguiram, pela primeira vez, calcular que a proporção de gestações múltiplas após uma SET é de 1,6% e que 1,36% das gestações múltiplas após a SET ocorrem como resultado de um processo chamado divisão monozigótica.

Esses resultados vêm do maior estudo para investigar a divisão monozigótica após SET – que analisou 937.848 ciclos de SET – e destaca fatores que podem aumentar o risco. Estes incluem o uso de embriões congelados e descongelados para SET, cultivo do embrião em laboratório por cinco ou seis dias antes da SET e eclosão assistida, na qual um pequeno orifício é criado na camada de proteínas que envolve o embrião (zona pelúcida ) para ajudar o embrião a sair e se fixar no endométrio (mucosa uterina).

Com base nesses resultados, os médicos podem avaliar se devem aconselhar os casais sobre o pequeno aumento no risco de gestações múltiplas como resultado da divisão monozigótica associado  a este tipo de tratamento.

Um zigoto é o óvulo fertilizado  que contém toda a informação genética de ambos os pais para formar um novo indivíduo. Ele começa a se dividir e a se subdividir em muitas outras células chamadas blastômeros, que eventualmente formam o embrião. A divisão monozigótica ocorre entre os dias dois e seis, quando o zigoto se divide, geralmente em dois, e cada zigoto então se desenvolve em um embrião, levando a gêmeos idênticos (ou trigêmeos, se o embrião se dividir em três). Estes são conhecidos como gêmeos “monozigóticos”.

“Pode ser difícil identificar se uma gravidez múltipla ocorreu após a verdadeira divisão monozigótica ou como resultado da SET combinada com a relação sexual que resulta na fertilização de outro óvulo ao mesmo tempo. A única maneira de ter certeza é usar o ultrassom para ver se há um ou mais sacos gestacionais e detectar o feto ou fetos por meio de seus batimentos cardíacos. Para este estudo, os pesquisadores identificaram gestações decorrentes da verdadeira divisão monozigótica como aquelas em que o número de fetos excedeu o número de sacos gestacionais”, explica o  especialista em Reprodução Assistida, Sergio Gonçalves, diretor da Clínica Viventre.

Gêmeos e trigêmeos

Os pesquisadores analisaram quase um milhão de ciclos de SET realizados no Japão, entre 2007 e 2014, e que foram relatados ao registro nacional de reprodução humana assistida japonês (mais de 99% de todos os ciclos de tratamento de ART foram inseridos neste registro desde 2007).

Após a SET usando embriões frescos ou congelados e descongelados, houve cerca de 277.000 gestações clínicas (29,5%), incluindo 4.310 gêmeos (1,56% das gestações) e 109 trigêmeos (0,04% das gestações).

A prevalência de divisão monozigótica verdadeira foi de 1,36%. Os pesquisadores descobriram que, em comparação com gestações únicas, o uso de embriões descongelados aumentou o risco de divisão monozigótica em 34%; o cultivo de embriões até o estágio de blastocisto aumentou o risco em 79% e a eclosão assistida em 21%.

Para os pesquisadores, a cultura do blastocisto está associada ao maior risco de divisão monozigótica dentre os três fatores de risco identificados. A seleção de embriões usando um teste de análise de imagem time-lapse automatizado por computador e a transferência de zigotos quando eles estão apenas começando a se dividir podem ser soluções para diminuir o risco.

No entanto, é importante ressaltar que, embora o uso da transferência de embriões únicos tenha aumentado em todo o mundo, a prevalência de gestações de divisão monozigótica não aumentou. Isso pode ser porque as técnicas de reprodução humana assistida e os meios de cultura de blastocistos melhoraram nos últimos anos, reduzindo o estresse sobre os embriões e, possivelmente, diminuindo o risco de divisão monozigótica.

Dr. Sergio Gonçalves
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