Testes de fertilidade caseiros: vale a pena?
Será que vale a pena fazer esses testes de fertilidade ofertados por aí? Vamos descobrir!
Um número crescente de pessoas, em todo o mundo ocidental, está esperando mais tempo para aumentar a família. No Reino Unido, por exemplo, a idade média dos pais de primeira viagem é 30-33 anos. Cinquenta anos atrás, a idade média era de 26 anos.
De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres têm engravidado cada vez mais tarde no Brasil. Nos últimos 10 anos, o aumento na faixa etária que vai dos 35 aos 39 anos foi de 63%, enquanto a taxa de nascimentos entre mães com até 19 anos caiu 23%.
Há muitas razões pelas quais as pessoas decidem ter filhos mais tarde. Por um lado, esperar mais tempo para ter filhos pode permitir criar estilos de vida mais estáveis, estabilizando primeiro carreira e finanças. “Mas sabemos também que, quanto mais o tempo passa, ter filhos pode se tornar mais difícil, sendo a idade um dos maiores fatores preponderantes que podem levar à infertilidade”, afirma o especialista em Reprodução Assistida, Sergio Gonçalves, diretor da Venvitre.
Dada a importância dessa decisão, não é de se admirar que exista um interesse crescente pelos testes de fertilidade caseiros, que geralmente são anunciados para pessoas na faixa dos 20-30 anos. E, embora esses testes possam fornecer algumas informações úteis, eles não podem fornecer uma “imagem completa” da sua fertilidade.
Sobre testes caseiros
Para as mulheres, o pico de fertilidade ocorre entre o final da adolescência e o final dos 20 anos. Depois dos 35 anos, a fertilidade feminina diminui mais rapidamente até que, por volta dos 45 anos, engravidar naturalmente se torna improvável. Embora a fertilidade também diminua nos homens com a idade, eles não experimentam uma queda tão dramática a partir dos 30 anos.
“Portanto, a melhor idade biológica para conceber geralmente ocorre numa fase da vida em que ter filhos pode estar longe dos planos de uma mulher. Isso pode explicar o apelo dos testes de fertilidade em casa, que prometem fornecer uma “radiografia de sua fertilidade” para que você possa planejar melhor quando começar a tentar ter filhos”, diz o médico.
Vários desses testes são atualmente destinados às mulheres. Provavelmente porque, ao contrário dos homens, que produzem espermatozoides continuamente a partir da puberdade, as mulheres nascem com todos os óvulos que terão para uso reprodutivo.
A maioria dos kits funciona fazendo com que os usuários forneçam uma pequena amostra de sangue, que é então enviada para um laboratório para ser testada. Para obter um “retrato da fertilidade”, esses kits geralmente analisam os níveis de hormônios específicos no sangue do usuário – mais comumente hormônio folículo-estimulante (FSH), hormônio luteinizante (LH) e hormônio anti-mulleriano (AMH).
Testes que analisam FSH e LH podem dar uma ideia geral do equilíbrio hormonal de uma mulher e podem indicar quando a ovulação pode ocorrer. Isso pode ajudar a determinar o melhor momento para que as relações sexuais ocorram se a mulher estiver tentando engravidar.
Os níveis de AMH são usados como um marcador para o número de óvulos remanescentes no ovário, isto é, a chamada reserva ovariana. Portanto, testes que analisam os níveis de AMH podem indicar se a fertilidade feminina está diminuindo.
“Esses testes podem dizer algo sobre a fertilidade feminina agora, mas não podem prever a fertilidade daqui a cinco ou dez anos. Além disso, embora possam ajudar a monitorar os níveis hormonais ou o número de óvulos ainda no ovário, eles não podem dizer a uma mulher se ela é infértil. Isso só pode ser feito pelo especialista em Reprodução Assistida, após consulta e exames complementares”, afirma Sergio Gonçalves.
Os pesquisadores também alertam que é perigoso colocar muita ênfase na determinação do status de fertilidade baseando-se apenas em alguns fatores biológicos selecionados. Na verdade, a fertilidade é regulada por uma complexa gama de fatores biológicos e de estilo de vida, como peso, alimentação e hábitos, tais como o tabagismo e o consumo excessivo de álcool.
Problemas dos testes de fertilidade
Embora a maioria dos testes de fertilidade caseiros sejam direcionados às mulheres, a fertilidade é uma questão atual tanto para os homens quanto para as mulheres. Aproximadamente um em cada oito casais é afetado pela infertilidade, definida como incapacidade de engravidar após 12 meses de sexo regular e desprotegido.
Existem muitas razões pelas quais a infertilidade pode acontecer, como desequilíbrios hormonais, problemas de ovulação ou óvulos de má qualidade. Nas mulheres, infecções pélvicas anteriores também podem ser um fator de infertilidade. Nos homens, a infertilidade é muitas vezes o resultado de uma contagem de espermatozoides muito baixa e pode ser consequência de uma infecção anterior. Mas, em muitos casos, as causas são desconhecidas.
“A infertilidade está aumentando entre os homens e é vista como um resultado do estilo de vida moderno. Obesidade, tabagismo, má alimentação, ingestão excessiva de álcool e uso de drogas recreativas têm sido associados à menor fertilidade em homens”, revela o médico.
Embora os homens também possam comprar kits de teste de fertilidade caseiros, esses testes geralmente só informam quantos espermatozoides ele está produzindo em cada ejaculação. “A forma (morfologia) e a velocidade (motilidade) do espermatozoide também são fatores cruciais para determinar a fertilidade de um homem – mas geralmente não são medidos por esses kits. Passar pela avaliação completa do especialista em Reprodução Assistida e realizar uma análise clínica completa do sêmen ainda é a melhor maneira de um homem avaliar sua fertilidade”, observa o diretor da Clínica Venvitre.
Fazer ou não fazer?
O conceito de fertilidade moderna está mudando – com as taxas de fertilidade diminuindo em todo o mundo. Em muitos países, nascem menos crianças hoje do que há 60 anos. Estudos recentes também mostram que a contagem de espermatozoides diminuiu em quase 60%.
“Entre testes de fertilidade e a realidade, sabemos que algumas mudanças no estilo de vida podem ajudar a melhorar a fertilidade. Por exemplo, perder peso e evitar fumar e beber em excesso podem aumentar as chances de um casal engravidar”, afirma o especialista em Reprodução Assistida, Sergio Gonçalves.