Perda da gravidez também está ligada à saúde paterna
Em estudo retrospectivo de quase um milhão de gestações, entre 2009 e 2016, nos EUA, publicado na revista Human Reproduction, os pesquisadores descobriram que se o pai for diagnosticado com síndrome metabólica – que inclui essas condições médicas: obesidade, diabetes, pressão alta ou níveis elevados de colesterol – há aumento do risco de a mãe perder a gravidez.
Comparado aos homens que não apresentavam nenhum dos componentes da síndrome metabólica, o risco de perda gestacional aumentou em 10%, 15% e 19%, respectivamente, para homens com um, dois ou três ou mais componentes da síndrome metabólica.
Saúde paterna
Já sabemos há algum tempo que a saúde das mães tem impacto no desenvolvimento do feto e nos eventos no momento do nascimento.
Mas este é o primeiro estudo a sugerir maior risco de aborto espontâneo, gravidez ectópica ou natimorto em gestações originadas a partir de espermatozoides de pessoas com tais problemas de saúde.
No grupo de homens estudados, o risco de perder a gravidez foi de 17% em casais onde o pai não tinha componentes da síndrome metabólica, mas aumentou para 21% em casais onde o pai tinha um componente da síndrome metabólica, 23% com dois e 27% com três ou mais componentes.
“O estudo não prova que a saúde paterna precária é a causa da perda da gravidez, revela apenas que há uma associação desses dois fatos. As implicações clínicas desses achados são que o aconselhamento pré-concepcional não deve esquecer o pai, pois sua saúde pode ter um impacto importante na gravidez. É este olhar global para a saúde do casal o fato mais importante aqui”, destaca o especialista em Reprodução Assistida, Sergio Gonçalves, diretor da Clínica Viventre.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores analisaram dados de pedidos de seguro nos EUA cobrindo 958.804 gestações. Além da síndrome metabólica, eles coletaram informações sobre outras condições médicas, como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), depressão e doenças cardíacas. Eles também calcularam a carga de doenças crônicas para todos os pacientes, que incluiu idade e histórico médico de problemas como insuficiência cardíaca, infarto, doenças dos vasos sanguíneos, doenças renais e hepáticas, câncer, AVC e demência. Eles ajustaram seus cálculos para levar em conta outros fatores que poderiam afetar a gravidez, em particular, a idade da mãe, saúde, peso e se o pai ou a mãe fumavam ou não.
Um total de 4,6% dos homens do estudo tinham mais de 45 anos e 23,3% tinham pelo menos um componente da síndrome metabólica antes da concepção. Resultados: 785.809 nascidos vivos e 172.995 gestações (22%) perdidas por gravidez ectópica, aborto espontâneo ou natimorto durante o período do estudo.
Como esperado, as perdas na gravidez aumentaram com a idade da mãe e o número de outras condições médicas que ela tinha. No entanto, manteve-se a associação com a saúde do pai e a perda gestacional. O risco de perder uma gravidez também aumentou devido à idade do pai.
Os mecanismos pelos quais a saúde do pai pode afetar o risco de perda da gravidez não são completamente conhecidos, mas os pesquisadores levantam a hipótese de que a saúde e o estilo de vida do pai podem afetar adversamente a composição genética dos espermatozoides e que isso pode alterar o funcionamento da placenta. Se a placenta não estiver funcionando corretamente, isso pode levar às perdas de gravidez observadas.