Adenomiose e maior risco de infertilidade
Mulheres com adenomiose – uma condição crônica que pode causar dor pélvica e sangramento menstrual intenso – correm maior risco de infertilidade, bem como de sofrer com problemas na gravidez e durante o parto. É o que aponta uma pesquisa apresentada na 39ª reunião anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE).
Este é o primeiro estudo feito sobre o tema com base em dados de mais de nove milhões de mulheres, que revela que as futuras mães com adenomiose podem apresentar taxas mais altas de complicações.
O maior risco foi para cesariana – 20 vezes maior para mulheres com adenomiose do que para aquelas sem a condição. A probabilidade de remoção cirúrgica do útero e complicações relacionadas à condição também aumenta muito.
Durante a apresentação na 39ª reunião anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE), os autores sugeriram que é necessário um monitoramento mais próximo das mulheres com adenomiose, pois elas são mais propensas a sofrer com infertilidade, parto prematuro e outras condições ginecológicas, como a endometriose.
Um pouco mais sobre a adenomiose
“A adenomiose afeta cerca de uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva. Ocorre quando o tecido endometrial e as glândulas que normalmente revestem internamente o útero são encontrados ou crescem na parede muscular do útero”, explica Sergio Gonçalves, especialista em Reprodução Assistida e diretor da Clínica Venvitre.
Durante a menstruação, esse tecido sangra como normalmente faria no útero. Os sintomas podem incluir cólicas intensas, sangramento intenso e dor durante o ato sexual.
A adenomiose pode ocorrer em conjunto com a endometriose, que é uma condição semelhante, mas tem características próprias.
Estudos já demonstraram que pacientes com adenomiose têm maior probabilidade de apresentar problemas obstétricos e ginecológicos, mas a orientação sobre como lidar com esses problemas ainda é limitada.
Entenda o novo estudo
Os autores se propuseram a fornecer informações aprofundadas sobre os resultados maternos, gestacionais e neonatais de mulheres com adenomiose.
Para isso, eles usaram registros de 2004 a 2014 do banco de dados Nationwide Inpatient Sample (NIS). O NIS faz parte do Health Care Cost and Utilization Project, a maior coleção de dados de internação hospitalar nos EUA.
O grupo de estudo foi baseado em 9.094.321 mulheres sem adenomiose que estavam grávidas e 2.467 futuras mães com adenomiose. Os resultados reprodutivos para mulheres com adenomiose e para aquelas sem a condição foram comparados.
E mostraram que as pacientes com adenomiose eram mais propensas a serem mais velhas, obesas, ter hipertensão crônica, doenças da tireoide, diabetes pré-gestacional e terem tido uma cesariana anterior, além de terem se submetido a tratamento de reprodução assistida, como a fertilização in vitro.
Em comparação com mulheres sem adenomiose, essas pacientes tiveram um risco 5,86 vezes maior de placenta prévia. Elas também tinham 1,69 vezes mais chances de desenvolver pré-eclâmpsia, um alto nível de proteína na urina, e 1,5 vezes mais chances de desenvolver hipertensão arterial crônica.
O risco relativo de intercorrências obstétricas foi 21,63 vezes maior para cesariana, 6,39 para histerectomia, 2,37 para complicações em feridas operatórias, 2,25 para transfusões de sangue, 2,17 para descolamento prematuro de placenta, 1,97 para sangramento excessivo após o parto e 1,82 para infecção puerperal.
O estudo não investigou por que esses riscos na gravidez aumentam. No entanto, pode haver múltiplas causas, como alterações inflamatórias, alteração do fluxo sanguíneo placentário, idade avançada e tumores benignos causados pela adenomiose. A maior taxa de cesariana pode ser devido ao aumento do risco de complicações na gravidez, como pré-eclâmpsia e placenta prévia.
“A adenomiose influencia na função do útero e isso pode afetar a forma como a gravidez evolui e quantos filhos uma mulher tem. As descobertas podem ajudar a garantir que as mulheres grávidas com adenomiose recebam o monitoramento e os cuidados extras de que precisam. A adenomiose é uma doença que requer um olhar atento dos especialistas em Reprodução Assistida”, afirma Sergio Gonçalves.